Noites de lua e dias de mel
- Carolina Germana
- 11 de nov. de 2021
- 6 min de leitura

Imagino-me deitada a balancear na rede, a ouvir o mar e a sentir o cheiro da brisa que por mim passa. Imagino-me ainda ali contigo, nos que foram as nossas noites de lua e dias de mel.
Desde o all-inclusive de Cancun, que nos permitiu total despreocupação para que nos dedicássemos simplesmente à nossa existência; ao pequeno hotel de apenas nove quartos construído numa pequena arriba em cima do mar em Tulum; ao hotel divinal que me fez chorar de emoção tal era a sua beleza natural, a ver o sol mergulhar no mar na fantástica ilha de Cozumel; e o terminar no hotel arranha-céus de volta a Cancun nos preparativos para o Dia de Los Muertos.
A nossa primeira paragem serviu-nos efetivamente para desligar, recarregar e nos voltarmos a conectar os dois. Serviu para percebermos que era real. Que estávamos de facto ali e já de aliança no dedo, diante daquele mar de sete tonalidades diferentes de azul. Isentos de responsabilidades, permitindo somente a nossa presença e simbiose. A única decisão a tomar era o sítio onde queríamos estar naquele espaço infinito. Praia, mar, piscina, quarto, restaurante ou bar? Vivemos dias bonitos, entre corpos meios mergulhados na água, com a outra metade a brindar com Corona, dias quentes de céu aberto, corridas de fugida da chuvada tropical, jantares românticos a ouvir violino, de garrafa de vinho debaixo de céu estrelado, e alguns shots de tequila a mais entre pezinhos de dança, jogos de matraquilhos e bilhar no espaço noturno do hotel.
Seguiu-se Tulum. O sítio onde a selva se encontra com o mar. Ao longo da costa, restaurante atrás de restaurante, bar atrás de bar, hotel atrás de hotel, qual deles o mais inn e mais cool, recheados de redes bordadas, colchões com vista mar e música ao vivo. Por todo o lado, uma enchente de gente nova e bonita, num ambiente descontraído e cheio de personalidade. No hotel, tivemos um atendimento personalizado, com todas as recomendações do staff adequadas àquilo que gostaríamos efetivamente de fazer, sem nos tentarem vender a mais. Com sorrisos estampados no rosto e um gosto enorme pelo bem receber, desenrrascando o portunhol ou saindo-se com palavras zucas, que para bom entendedor, chega e sobra. Tínhamos o café deixado numa cesta de vime à porta do quarto todas as manhãs, com os copos de coco para servir, acompanhado de bolachinhas de manteiga e ao final do dia, o chá e o chocolate eram lá deixados. O adormecer e o acordar a ouvir o mar e a vista do baloiço suspenso do nosso mezzanine particular. O deixar o chinelo para trás e ir descalço pousar o pé na areia. Aqui, aventurámo-nos a alugar bicicleta e explorar os cantos da cidade, por entre estradas da terra minadas pelas chuvas, num ziguezague por entre carros e carrinhas, tentando evitar mergulhar e enterrar numa poça de sujidade. Visitámos o tão esperado Jungle Gym e fizemos um treino em fato-de-banho, usando os pesos de rocha e madeira. Fomos a uma festa privada no Papaya Playa Project, onde os telemóveis ficaram retidos à porta, num espaço à beira-mar decorado em modo boho-chique, com barraquinhas de roupa de pequenos negócios de nómadas e comida sul americana, com a música techno/house a fazer-nos movimentar os corpos até não aguentar mais. Não pagámos os tours para visitar os cenotes e quisemos andar quilómetros de bicicleta à beira da autoestrada para lá chegar. Deliciámo-nos com aquelas obras da natureza, de lagos de água cristalina, por entre grutas cheiinhas de morcegos. Visitámos as ruínas maias e viajámos até tempos antigos, passeando-nos entre esculturas e construções arrepiantes. Comemos burrito e tacos numa típica tasca mexicana no centro e jantámos a melhor refeição das nossas vidas à luz das velas no restaurante do nosso hotel, com direito a trocas de palavras de apreciação com o Chef. Bebemos as melhores margaritas de maracujá e morango e fizemos careta com o shot de Mezcal e toranja.
Terceira paragem, a bonita ilha de Cozumel. Com pena de não a termos aproveitado mais tempo, mas foram três dias de um paraíso sem igual. O ferry partiu de Playa del Carmen e nós no topo a sentir o vento quente a nos levar. Estávamos os dois de queixo caído ao chegarmos ao hotel onde ficámos alojados. Confesso que não andei a explorar previamente aquilo que íamos fazer ou a ver fotografias e imagens dos espaços que íamos visitar, pelo que foi sempre uma agradável surpresa. E este foi mágico. A cerveja Corona acompanhou mais uma vez o nosso final de tarde, molhando os nachos no guacamole, pico-de-gallo e só um pouquinho no molho de Habanero, terminando com a sandes cubana a nos deixar saciados. Perdemo-nos nas horas e eu perdi-me no sol. Senti-me como que se a flutuar na paz daquele lugar, de mente vazia, a absorver a beleza da natureza que se presenteava à minha frente. Lágrimas nos olhos de felicidade por estar a ter a oportunidade de ali estar, com a pessoa que escolhi e me escolheu para seguirmos esta caminhada que é a vida. Disseram-nos para alugar um jipe, mas decidimos alugar uma mota. Percorremos uns bons quilómetros de cabelo ao vento, cruzando-nos com os locais na sua vida corriqueira de ilhéu tropical e com os variados répteis residentes, de lagartos a iguanas e um encontro simpático com um crocodilo jeitoso no seu habitat natural. O mar do Caribe acolheu-nos e nós abraçámo-lo, visitando-o de uma forma especial. Desafiaram-nos a fazer mergulho e nós desafiámos o medo e enchemo-nos de coragem para meter a botija às costas e descer uns metros de profundidade para nadar ao longo do segundo maior recife do mundo a seguir à Grande Barreira australiana. O limite para o movimento não existe - para cima, para baixo, para os lados - como que se pudéssemos voar. E o silêncio que se sente no fundo do mar é apaziguador. Não há conversas. Apenas tempo para olhar. Ver. Explorar. Comunicando apenas o essencial por entre sinais previamente aprendidos. Parecia estar a passear-me num grande e bonito jardim, em que os corais substituem as flores e os peixes das mais variadas cores e feitios substituem as borboletas. Vimos a tartaruga a alimentar-se do recife e a raia rastejando-se no fundo, mas não chegámos a ter encontro com o tubarão. Penso que terá sido melhor assim. Cozumel encantou-nos com as suas águas cristalinas, os cardumes de peixes em nosso redor, a sua areia branca e fina, a sua biodiversidade e a sua beleza natural.
Voltámos para Cancun. Aproveitámos a última noite para visitar o centro e ir a um dos shows mais incríveis, numa discoteca feita showroom de espetáculos de acrobacia, qual sair à noite em Las Vegas. E a música sul americana faz querer mexer a anca até mais não. Vidrámos no espetáculo e divertimo-nos até sentirmos que estava na hora de arrancar. O último dia em terras mexicanas foi passado em modo lento. A assimilar tudo aquilo que vivemos ali os dois e a aproveitar o último dia de sol para bronzear e salgar um pouco mais a pele. Só ficámos com pena de termos de ir embora e não assistir à celebração do Dia de Los Muertos que se preparava para acontecer, com os altares a serem construídos cheios de cor e oferendas a quem já partiu para que se pudesse juntar e acompanhar familiares e amigos num dia de festa.
Quem disse que casar não é bom, nunca terá ido de lua-de-mel. O verdadeiro estado de graça. De amor. De partilha. De entrega. Continuávamos lá os dois por tempo infinito. Pena que só nos deixemos tirar duas semanas em toda a nossa vida para gozarmos a dois. Com os poucos mais de 20 dias que nos dão de férias anuais, num emprego dito clássico, quando é que nos vamos permitir gozar de 15 desses assim novamente? Entre passá-los com família, amigos, a visitar a terra natal e com os filhos que entretanto aparecem, quando é que voltamos a ter uma oportunidade assim? Não sei. Tinha curiosidade em saber quantos de vocês leitores já o voltaram a fazer ao longo da vida. Estes dias da lua de mel deviam ser dados anualmente na altura do casamento para o casal renovar votos e fazer reacender paixões.
Parece ter sido um sonho, mas foi real. E as memórias, essas, ficarão estampadas nas nossas almas para sempre. E ninguém nos tira presente mais rico que estas noites de lua e dias de mel.
CroniCalinas 10.11.2021
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