Meu Porto.
- Carolina Germana
- 24 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de mai. de 2020

(Fotografia da minha lente)
Meu Porto.
Saudades de te passear, de te ver cair o dia, dos teus cheiros e sons.
Saudades de descer da Trindade aos Aliados, pela esquerda subir pelo Bolhão e percorrer a Rua de Santa Catarina. Olhar para a fila que aguarda entrada no Café Majestic e lembrar-me de quando lá estive sentada sem esperas, a comer uma rabanada e a beber um chá, a deixar-me deslumbrar por aquele teto, iluminação e piano.
Saudades de parar no Mengos, ficar indecisa sob que pastelaria levar e acabar sempre com um lanche especial. Passar na Praça da Batalha e descer para o funicular dos guindais, que não uso. Desviar para passar na Ponte D. Luís, ver as gaivotas sobrevoar o Douro e deliciar-me com a vista deslumbrante daquele ponto alto sob a Ribeira e o Cais de Gaia.
Saudades de descer a escadaria da Sé à Ribeira, ver as donas de casa à porta a falar com as vizinhas, as crianças a jogar à bola e a roupa secar nas varandas como que a decorar o percurso.
Saudades de chegar à Ribeira, ouvir o metro a passar lá no alto da ponte D. Luís I, caminhar à beira-rio e observar casais e amigos de copo de vinho na mão nas esplanadas, à espera do sol se pôr. De olhar para trás e admirar aquela vista, com o rio a dividir cidades e a ponte a uni-las. O canto das gaivotas a fazer eco nos meus ouvidos, numa melodia bonita entre conversas indecifráveis dos turistas que por lá andam. E deixar-me absorver naquela mistura de sentidos de visão, olfato e audição, em perfeita sintonia.
Saudades de acabar o dia no Jardim das Virtudes, com uma cerveja e um rissol, reunida com amigos, a rir, contar histórias e a ver o sol mergulhar no Douro entre grades.
Saudades de jantar no Lareira uma sandes de alheira com ovo a beber uma deliciosa sangria de frutos vermelhos, com música portuguesa de fundo e paredes de pedra que te dão as boas-vindas como ninguém.
Saudades de começar a noite na Adega Leonor e acabar nas Galerias; encontrar conhecidos e amigos de faculdade pela noite dentro, entre abraços e pés de dança; ir até à cave do Rendez-Vous ouvir rock e acabar a noite no Tendinha.
Saudades de te ver pelo Miradouro da Vitória, de subir à Torre dos Clérigos, de deitar-me no seu jardim e acabar a dar a volta à escadaria vermelha da Livraria Lello antes de ser paga a entrada.
Saudades de descer a Rua das Flores, depois de ir buscar um gelado ao Santini e ver os artistas de rua chamarem atenções.
Saudades de parar no Almada, apetecer-me comprar tudo e não levar nada a não ser uma fatia de bolo da Miss Pavlova.
Saudades de Serralves e dos seus jardins e dum picnic no Parque da Cidade. De ir até Matosinhos e observar os surfistas nas ondas e vê-las a rebentar do Castelo do Queijo até à Foz.
Saudades dos tempos de queima, de reunir mais amigos em casa do que a sua capacidade máxima e de preparar macarronadas em três panelas no fogão; de rir, dançar e conviver até ser de manhã e acabar a rebolar na rotunda na anémona com o dia a nascer.
Saudades de ti que me viste crescer e tornar-me a pessoa que hoje sou. Que me ensinaste mais do que eu alguma vez pensei aprender. Que me trouxeste experiências inesquecíveis e amizades que levo para a vida.
Conheci-te todos os cantos ao vaguear pelas tuas ruas e tornaste-te casa.
Saudades de ti, meu Porto de abrigo.
Diário de uma pandemia 24.04.2020
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