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Get back on track

  • Foto do escritor: Carolina Germana
    Carolina Germana
  • 5 de jun. de 2021
  • 4 min de leitura


Num mundo em que os estímulos são constantes e as portas infinitas para crescermos, conquistarmos e realizarmos sonhos, a nossa estabilidade emocional está sempre no limbo.


Sinto que ando pé ante pé na corda bamba a toda a hora, tentando arranjar o equilíbrio a todo o custo para não tombar. Ora empurra dum lado, ora puxa do outro. Este desafio para mantermos a nossa sanidade a meio dos mil e um afazeres a que nos propomos cumprir, enquanto a vida nos vai acontecendo, é desgastante.


À medida que vamos ganhando responsabilidades nesta vida de adulto, crescem as probabilidades de algo correr mal. Na nossa profissão, nas nossas relações, na nossa saúde, na nossa vida pessoal e familiar.


Cada vez mais se fala de ansiedade, de depressão, de saúde mental. E cada vez mais acho que somos mais nesta infeliz posição. Mas não seremos nós os culpados? Não estaremos nós a querer viver rápido de mais? Querermos coisas a mais? Não estaremos nós sempre com a expectativa de estar felizes a todo o custo, a toda a hora?


Esta ideia de termos de estar sempre bem, é irreal. Passamos por adversidades diárias várias e precisamos de mais ou menos tempo para recuperar delas. A ideia de que o bem-estar não passa de "ticks" em MAIS mil e uma tarefas a cumprir é, de facto, irrealista. E tem-nos levado demasiadas vezes ao escuro.


Colocamos em nós demasiada pressão e a vida está sempre a colocar-nos à prova. A vida é imprevisível e nós somos meros peões. Não somos donos do coração, da natureza ou do mundo. Muito menos donos do outro e da relação vivida com os demais. Somos apenas resultado das ações que tomamos perante o que nos é dado. E em constante aprendizagem para o fazermos de forma a continuarmos a manter o nosso tal equilíbrio interior.


Constante aprendizagem significa que nunca seremos perfeitos nesta tarefa. E está tudo bem.


Era bom, sim, estalar os dedos e ter a vida de sonho. A felicidade extrema. De tomar sempre a decisão mais correta. De nos lembrarmos de tudo o que temos de fazer. Era bom dizer não às tristezas - não tens espaço aqui. De viver tranquilo com as angústias.


Mas nós somos feitos de emoção. Nós somos alma. Precisamos de sentir. E, mais importante que isso, deixar-nos sentir. Precisamos dos erros, das falhas, das derrotas. Precisamos de estar tristes e às vezes zangados. Precisamos de sentir o coração a bater depressa, do suor nas mãos. Precisamos do esforço, da dedicação e do empenho.


Precisamos de sofrer e de chorar.


A vida é mesmo esta montanha-russa de vivências alegres e menos alegres. É feita de luta e de sonhos. Do reerguer, renascer e crescer. Não uma, não duas, não três vezes. É sempre. A toda a hora. Quanto mais cedo percebermos que assim o é; quanto mais cedo nos conhecermos, soubermos quem somos, o que sentimos e como reagimos às mais variadas situações, talvez menos tempo levaremos a sair do fundo do poço, porque mais depressa identificamos que para lá caímos. E, mesmo assim, a vida tem sempre forma de nos oferecer de bandeja o desconhecido e o incerto e nos deixar outra vez à deriva: o que fazer?


Somos alvos fáceis do imprevisto e fazemos do tempo cura. É um esforço ativo diário este de levantar da queda e subir, subir, subir. Para chegarmos ao topo e voltar a cair. É um esforço que, se o deixarmos que tome conta de nós, acaba connosco.


Somos também responsáveis por nós e pela gestão de nosso tempo. E das nossas expectativas. Não temos de ter medo de falhar. Não temos de decidir o rumo da nossa vida hoje. Não temos de prever o que vai acontecer amanhã.


Contra mim falo e por isso partilho convosco. Tenho-me sentido a ser colocada à prova várias vezes durante este último já ano e meio e, muito particularmente, este ano de 2021. Aliás, como muitos de nós, com toda a certeza. Não sei se é pela pandemia, se é por andar mais atenta aos detalhes da minha vida, se é por estar mais aberta ao mundo fora e dentro de mim, mas sinto que estou sempre a recomeçar na tal busca pelo bem-estar, porque estou sempre a ser pontapeada de novo para o poço. Raios.


Mas o que acho que acontece mesmo é a tal gestão de expetativas. Eu quis prever que 2021 ia ser bom, antes dele começar. E está a ser. Não sempre. Mas está. E é isto que este ano que já vem a meio, me tem demonstrado e feito aprender.


O autoconhecimento é um caminho longo. E penso ser um sem fim. Que se adapta às mudanças e às circunstâncias da vida, à nossa própria evolução e à dos que nos rodeiam. No entanto, a esperança é de que seja um caminho em que o tempo que passamos na escuridão seja menor que o tempo que passamos a correr livre nos prados, à luz do sol.


Que saibamos identificar rapidamente quando estamos em queda livre, para dar tempo e espaço para abrir o paraquedas. Que tenhamos paciência e nos agarremos de novo às rotinas que sabemos fazer-nos realmente bem, os pontos-chave para o “get back on track”.


Diário de uma pandemia 5.6.2021

 
 
 

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