Breves instantes
- Carolina Germana
- 17 de abr. de 2022
- 3 min de leitura

Está uma noite amena neste 17 de abril. É noite de lua cheia, que ilumina os céus. Regressámos esta manhã duma visita relâmpago à cidade de Londres. Em terras britânicas já não há medidas pandémicas, passados mais de dois anos do início da pandemia, depois da razia que foi a vaga da variante Omicron que infetou grande parte da população inglesa.
Mal aterrámos no aeroporto de Gatwick e tirámos as máscaras para identificação na passagem dos passaportes, não voltámos a colocá-la na cara. Livres deste ançaime que há tanto nos tapa sorrisos, vimos a cara de todos os que por nós passaram, dentro ou fora, nos passeios, transportes, lojas e restaurantes.
Para mim, que todos os dias ainda a uso horas a fio em contexto laboral, foi um verdadeiro detox. Não sei se é desta que me pega, dada a exposição, mas soube-me a uma fuga de cela.
Não escrevo há meses. Há meses que ando dormente. Finda uma nova vaga pandémica sazonal, chegou-nos a noticia e as imagens de (mais) uma guerra, desta vez às portas do nosso continente, com a invasão do maior país do mundo. Sem conseguirmos ficar indiferentes, somos novamente abalados pela incerteza, voltando o terror a ser uma constante no subconsciente, fazendo-nos sentir impotentes, pequeninos e frágeis. Relembrando sermos constituídos por breves instantes, que num piscar de olhos se podem tornar inexistentes.
Demorei a processar e a mudar novamente o chip. Não só por isso, mas também. A voltar a agarrar os instantes pelas rédeas e a fazer com elas o meu caminho. Sinto que esta viagem foi uma viragem neste estado de alma, libertadora. Relembrando que a luz, os sítios bonitos e as pessoas boas circulam ainda pelo mundo.
E os instantes voltam a ser bons e orientados por mim, que os volto a procurar.
Hoje é dia 17 de abril. Sempre gostei desta data. E este ano, dia de Páscoa.
Voltámos da viagem a Londres, onde percorremos quilómetros e quilómetros de cidade a pé, debaixo de céu azul e sol quente, fora do habitual. Onde o Big Ben, o London Eye, a Tower Bridge e os autocarros vermelhos de dois andares nos fazem sentir a vaguear num filme de cinema. Onde vimos um dos mais impressionantes espetáculos de teatro, música, dança e magia.. verdadeira magia.. de uma das mais impactantes histórias da nossa infância, "Harry Potter and the cursed child".
Regressámos para um almoço também ele caloroso no espaço que agora virou casa, junto do meus avós, mãe, irmãos e primos. Rodeados de família, passámos a tarde entre abraços reconfortantes, longas conversas, comida à mesa e claro, chocolates. O sol manteve-se presente, fazendo-nos aproveitar o exterior no relvado entre silêncios e gargalhadas.
Hoje é dia para agradecer as várias bênçãos da vida. Viver os instantes que nos são dados no conforto de um espaço familiar, na companhia das pessoas que amamos, na regalia duma mesa composta, na sorte de poder explorar mundo, de partilhar sorrisos e de sentir o sol.
Hoje é dia de deixar o medo de lado. De impedir que a incerteza do futuro nos impeça de viver os nossos instantes. Por nós, pelos que nos rodeiam e por todos os que sofrem ou que já partiram deste mundo.
Vivamos os nossos instantes, como se num piscar de olhos, pudessem deixar de existir.
Diário de uma pandemia 17.04.2022
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