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Prefácio: o interno escreve

  • Foto do escritor: Carolina Germana
    Carolina Germana
  • 26 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

"O interno escreve" pretende serem crónicas da minha vida como interna de formação específica em Pediatria. Hoje frequento o meu terceiro ano de internato, num total de 5. Aliás, vou precisamente a meio. Acabei de terminar os meus estágios iniciais de Pediatria Geral, comecei o meu estágio de Cuidados de Saúde Primários e daqui em diante, vou andar numa vida de troca tintas entre estágios obrigatórios e opcionais até ao final. Certamente surgirão histórias por contar, nesta vida paralela que levo que é tão minha.



Mas antes de mais e antes de tudo, falo do percurso até lá chegar.



Não fui das crianças que dizia que queria ser médica desde pequenina. Nem dizia que queria ser bailarina, bombeira, cozinheira, advogada ou demais profissões. Queria era brincar com as minhas bonecas, cuidar delas e tratá-las como meus filhos, imitando a minha mãe que aos meus quatro anos e meio já me tinha dado dois irmãos.


Durante a minha adolescência, estive sempre mais preocupada em viver a minha vida do que em pensar no meu futuro. Era muito focada e concentrada quando estava nas aulas, gostava de ser boa naquilo que fazia, de conhecer e de aprender mais. Tive ainda a sorte de ter uma boa capacidade de aprendizagem, de ter muito estímulo dos meus pais e familiares e muitos bons professores que me motivaram desde a minha infância a querer ser melhor do que tinha sido no dia anterior. As notas nunca foram um meio para atingir um fim. Fazia parte de mim querer atingir bons resultados e quando isso não acontecia, ficava naturalmente frustrada e competia comigo mesma. Não dava hipótese na vez seguinte.


Quando cheguei ao Liceu, não tive dúvidas de que queria ciências. Gostava de entender o universo e a natureza. Via documentários sobre os planetas e a vida na terra e no mar. Gostava de perceber o corpo humano e como é que ele funcionava. Gostava de ciência em geral. E por isso biologia, matemática e química teriam de estar no leque de disciplinas a ter.


Lembro-me como se fosse ontem das palavras sábias da minha prima mais velha, na altura a tirar o curso de medicina e hoje internista, que me disse: “trabalha para o melhor que podes ser e no fim tens todas as hipóteses por onde escolher”.


Aquilo fez-me total sentido. Dentro da área que eu gostava, se eu conseguisse ser o melhor possível, não tinha propriamente de me preocupar já com o que queria ser mais tarde. Mais uma vez, os anos se passaram sem grande pressão com o que eu me imaginava a ser no futuro.


Décimo-segundo ano. Meti-me na corrida para a comissão de finalistas como tesoureira, lado a lado com os meus outros 4 companheiros e amigos. A “lista C” ganha nas eleições e daí em diante foram só organizações, festas e outros projetos que se iam metendo pelo caminho. Queria era conviver com amigos, organizar projetos, planear festas e divertir-me. No entanto, nada disso alguma vez influenciou o meu foco durante as aulas ou interferiu com a minha vontade paralela de aprender.


Chegou a temida fase dos exames finais de secundário. O meu objetivo era conseguir as notas para entrar em medicina. Sabia que, se o fizesse, tinha todas as outras possibilidades em aberto também. Pela primeira vez, fiz contas à vida. Com notas alvo para cada exame, à centésima, consegui o objetivo.


No dia da escolha, não tive dúvidas.


Era para medicina que queria ir.


E era Pediatra que queria ser.

 

O interno escreve - 20.05.2020

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