Hoje, num abraço imaginado
- Carolina Germana
- 3 de mai. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de mai. de 2020

Hoje é dia da mãe.
Hoje fui dar um mergulho ao meu jardim de casa e vi-a comigo. Num abraço imaginado, ouvi as suas gargalhadas e senti o seu cheiro de perto.
A minha mãe é transparente como a água. Mostrou-me as suas virtudes e nunca me escondeu os seus defeitos. Mostrou alegria nas suas conquistas e tristeza nas suas derrotas. Raiva nas suas angústias e tranquilidade na sua paz. Entusiasmo nos seus sonhos e desilusão quando não os cumpriu.
Mostrou-me que a vida é imprevisível como as ondas do mar. Por vezes serena, por vezes tempestade. Que somos como um barco à deriva ao encontro do nosso rumo, por vezes salvo por terra, por vezes derrotado por temporal.
Ensinou-me a construir jangada quando o barco naufraga. A nunca desistir de objetivos. A acreditar que sou capaz e a querer ser melhor amanhã. A ter as minhas convicções e ideais e a confiar no meu instinto.
Ensinou-me a atracar no desconhecido, a querer saber mais, a conhecer, a explorar. A me desafiar, não me conformar nem me acomodar.
Nem sempre estamos no mesmo barco, eu e a minha mãe. Mas andamos ancoradas pela cumplicidade, amor, gratidão e inspiração e encontramo-nos sempre na mesma praia para o sossego depois da agitação.
Hoje é dia da mãe e há mães a afastarem-se dos filhos e filhos a afastarem-se das mães.
Há mães cansadas dos filhos e filhos cansados das mães.
Há mães com saudades dos filhos e filhos com saudades das mães.
Hoje sou filha com saudades da mãe.
Por isso hoje, num mundo imaginado, estamos lado a lado deitadas na areia de mão dada a apanhar raios de sol. Ali ficamos no silêncio e na esperança, que o breve possível seja mais breve, para que possamos mergulhar de novo as duas nas ondas do mar.
Díário de uma pandemia 03.05.2020
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