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Cuidemos de nós.

  • Foto do escritor: Carolina Germana
    Carolina Germana
  • 21 de abr. de 2021
  • 4 min de leitura


Hoje foi o meu último dia de fisioterapia. Hoje cheguei a casa com uma sensação de liberdade. Lesionei-me há exatamente três meses e estou finalmente a voltar a mim.


O início do ano foi difícil. Por uma série de razões. Mudança de cidade, de casa, de ambiente. Começar o ano de estágios de subespecialidades num Hospital Central, com uma vida mais solitária e com equipas novas. A pandemia a agravar e o confinamento a obrigar a ficar em casa, impedindo escapadinhas. Foi um início de ano com a minha primeira experiência pessoal de perda de alguém muito especial. E foi um início de ano em que fui obrigada a estar quieta, a meter baixa, a ficar imóvel e a depender de terceiros durante tempo a mais. E esta sensação de inutilidade e de incapacidade física, aliado a tudo o resto, deitou-me mais abaixo do que eu imaginei ser possível.


Não estava bem. Não estive bem.


Mas hoje, 3 meses depois, estou bem. Talvez até melhor do que nos últimos anos. Interessante como a vida nos põe à prova e são esses os triggers para abrirmos os olhos à necessidade de mudança e à importância de cuidarmos de nós.


Mas tive ajuda. E hoje quero agradecer aos profissionais que estiveram envolvidos, porque julgo que a maioria não tem noção da influência que tem na vida das pessoas que trata. E falo por mim, que também sou profissional de saúde, e talvez não o tenha tão presente quanto devia.


Para quem esteve a tratar de mim, eu fui só mais uma. Mais uma doente. Mais uma sessão. Mais um tratamento. Eles estavam em countdown para o seu regresso a casa para junto dos seus e para mergulharem nos seus hobbies e momentos de lazer. Mas para mim, eles foram a minha salvação. E talvez não saibam que usaram as palavras certas, no momento certo. Que com serenidade e tranquilidade, transmitiram confiança e esperança na recuperação, na melhoria e na conquista de objetivos. Talvez não saibam a importância que tiveram ao ensinar-me que só com paciência e persistência se conseguem os resultados que eu, com a minha pressa habitual, queria para ontem.


Eles não sabem que me fizeram procurar a calma e me fizeram voltar a mim, que me fizeram voltar a sentir capaz. E hoje quero dizer-lhes. À D, ao Z., à S., que me deram as armas para vencer mais uma batalha. Agradecer-lhes por me ensinarem a ouvir o meu corpo, a não desistir e a confiar nas minhas capacidades. Que me desafiaram a ir mais além e me alertaram para o santuário que é este nosso espaço que nos carrega a alma.


Quero lembrar-lhes que o trabalho deles faz a diferença. E que também eu me esqueço, como profissional de saúde, que atrás do corpo doente, há uma pessoa enfraquecida, triste, desanimada e desmotivada. Que está alguém que precisa de colo e de força. Quero dizer-lhes que eles, sem se aperceber, me deram esse colo e essa força que precisava para curar o corpo. Agradecer-lhes por me terem relembrado o que é estar do lado de cá. Agradecer-lhes a empatia, a simpatia, por me desafiarem e procurarem o melhor de mim. E que tudo isso faz com que obtenham resultados que vão muito além da técnica e do conhecimento teórico – porque a adesão e a motivação são meio caminho andado para a recuperação. Quero dizer-lhes para não perderem a humildade, não deixarem de querer sempre melhorar e não desistam de criar mudança e fazer sorrir.


E é mesmo verdade.


Que a persistência, a consistência e a confiança são as armas para a mudança, para a cura, para o sucesso e para a felicidade. E que tudo leva o seu tempo. Porque é preciso não desistir mesmo quando parece não haver retorno e aceitar que na vida vamos descarrilhar várias vezes, sabendo que se pode voltar ao sítio certo, se dermos tempo para que se voltem a construir as linhas.


E é mesmo verdade.


Que precisamos de pessoas. Precisamos de ajuda. Precisamos dos outros. De quem nos desafie, nos estimule, nos eleve. De quem queira ver a melhor vertente de nós, que acredite no nosso potencial, que é sempre mais do que aquilo que julgamos existir. Precisamos de quem nos faça sorrir, nos abrace e nos deixe chorar.


E temos de nos dar espaço. E tempo. Saber ouvir e respeitar o processo. Aprender a ser paciente, a procurar a tranquilidade e a fugir da pressa.


Não me quero esquecer e por isso escrevo. Que é possível curar, cuidar e voltar. Regressar ao que já tinha sido iniciado. Recomeçar quando por alguma razão somos obrigados a parar. Saber parar. Deixar sentir. E renascer.


É mesmo verdade.


Que para cuidarmos dos outros e para estarmos disponíveis para abrir o coração, temos de ter o nosso seguro e acarinhado. E que o coração se aquece com o cuidado do corpo, da alma e da mente e que este trio tem de ser o nosso foco de atenção nesta passagem curta pela vida.


Somos breves de mais. Frágeis de mais. Estejamos atentos a nós. Cuidemos de nós.

 

Diário de uma pandemia 20.04.2021

 
 
 

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